Obras em Casa: transformar o sonho em realidade com (c)alma

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Fazer obras em casa é, para muitos, o início de um sonho. No entanto, nem sempre o processo é simples: entre prazos, orçamentos e decisões, o que devia ser uma experiência entusiasmante pode rapidamente tornar-se num desafio. Foi precisamente sobre este tema que o programa Sociedade Civil, apresentado por Luís Castro na RTP2, dedicou uma das suas mais recentes edições, reunindo profissionais com diferentes perspetivas do setor: Ana Rita Gomes, arquiteta e CEO do CURO, Bárbara Morais, criadora de conteúdos digitais, e Joana Laranjeira, fundadora do Atelier do Ó.

Percursos e primeiros projetos

A conversa começou com as origens de cada convidada no mundo da arquitetura e da reabilitação.

Ana Rita Gomes, que lidera o estúdio CURO, em Águeda, contou que o seu primeiro grande projeto surgiu dentro da própria família: “Comecei pela casa do meu irmão, uma construção de raiz. Ele acreditou em mim e foi a partir daí que o CURO nasceu.”

O estúdio, que já soma quatro anos de atividade, distingue-se por uma abordagem que combina rigor técnico com uma forte componente emocional e de acompanhamento próximo dos clientes.

Joana Laranjeira explicou que o seu percurso está muito alinhado à comunicação digital. Fundou o Atelier do Ó, mas continua a usar as redes sociais como extensão do seu trabalho, partilhando dicas de decoração e pequenas intervenções que qualquer pessoa pode fazer em casa. “No digital falo para uma câmara, não é igual a trabalhar num projeto real com arquiteto. Nas redes sociais as dicas são mais genéricas”, referiu.

E Bárbara Morais, é influencer e criadora de conteúdos digitais. Compartilha nas redes sociais da @familiabeijaflor a reabilitação de uma casa de 1930 em Vila do Conde. 

A alma de uma casa

Mais do que falar de obras, o programa abordou o que realmente dá personalidade a um lar.

Para Ana Rita Gomes, “aquilo que faz uma casa é aquilo que a transforma num lar”. Independentemente de ser um projeto de raiz ou uma reabilitação, a arquiteta acredita que o segredo está em perceber quem são as pessoas que ali vão viver. “Por exemplo, se são de nacionalidades diferentes, há sempre um trabalho de mediação; ou quando se trata da antiga casa da avó, é importante manter certos traços que preservem a memória.

Com o olhar sensível que caracteriza o trabalho do CURO, Ana Rita sublinhou ainda que “uma casa extremamente arrumada é uma casa não habitada. Se fosse assim, viveríamos todos num quarto de hotel”.

Bárbara Morais, autora da página @familiabeijaflor, acrescentou que o espaço deve refletir quem o habita: “A mulher torna a casa num lar. Para eu viver numa casa, ela tem de ser adaptada a mim, tem de ter a minha personalidade. Não pode ser um copy-paste de outras casas.”

O consenso entre as três convidadas foi claro: uma casa ganha alma quando é pensada à medida das pessoas e não apenas das tendências.

Perfis e diferenças entre clientes

A conversa avançou para as diferenças de perfis entre clientes, um tema que as arquitetas conhecem bem.
De forma geral, as mulheres tendem a estar mais atentas à estética, ao conforto e à funcionalidade dos espaços, valorizando pormenores como despensas, lavandarias e arrumos. Já os homens mostram-se, muitas vezes, mais focados nos aspetos técnicos da construção.

Compreender essas diferenças, defendem, é essencial para adaptar o projeto às necessidades reais de cada família.

Desafios do setor

Quando o tema passou para os desafios das obras, surgiram pontos de vista complementares.

Para Bárbara Morais, o principal obstáculo continua a ser a mão de obra qualificada e o cumprimento de prazos por parte dos empreiteiros.
Joana Laranjeira destacou outra dificuldade: a perceção, ainda limitada, de muitos clientes sobre o valor do projeto de arquitetura. “Há quem peça três orçamentos e escolha apenas com base no preço e depois percebe que o resultado não é o esperado”, referiu.

Ana Rita Gomes destacou a importância da fase de planeamento e o papel do arquiteto como gestor do processo. “Os grandes problemas não começam na obra, começam antes dela”, explicou. “O arquiteto não só desenha, é quem garante que o projeto cumpre regulamentos, prazos e legalizações.”

A arquiteta reforçou ainda que os riscos aumentam quando as obras não seguem as normas exigidas: “O problema não está nas pessoas quererem dar nova vida à casa, mas quando as coisas não cumprem os requisitos e, depois de feitas, a Câmara não aprova.”

O lado prático: empreiteiros e prazos

O programa contou também com a intervenção de João Correia, empresário da área da construção, que participou por videochamada. O profissional explicou que a sua empresa se dedica a remodelações e que o objetivo é “tirar do papel e concretizar o sonho idealizado pelo cliente”.

Reconheceu, no entanto, que a escassez de mão de obra qualificada é um dos maiores desafios do setor. Segundo João, é comum as empresas gerirem várias obras em simultâneo, realocando equipas de um projeto para outro, o que acaba por gerar atrasos. “Nós optámos por outro modelo: preferimos concluir uma obra antes de iniciar a seguinte”, afirmou.

O debate abordou ainda questões como a concorrência desleal, casos de empreiteiros que trabalham sem seguros ou que abandonam obras após receberem o sinal, deixando clientes sem solução.

Construir com confiança e (c)alma

No encerramento da conversa, as convidadas deixaram mensagens que resumem a sua visão sobre o setor.
Para Bárbara Morais, é fundamental valorizar os profissionais da construção, lembrando que “uma obra leva tempo e o investimento vale a pena”.

Joana Laranjeira reforçou a necessidade de pagar o justo pelo trabalho bem feito, afirmando que “não se pode escolher apenas pelo preço e esperar o mesmo resultado”.

Ana Rita Gomes concluiu com uma mensagem de otimismo: “Construir não tem de ser algo que nos meta medo. Um projeto deve trazer 4 pilares: segurança, conforto, funcionalidade e estética.

Assista ao programa completo

O episódio Obras em Casa do Sociedade Civil está disponível no site da RTP2.

Sobre o CURO

O CURO é um estúdio de arquitetura sediado em Águeda, fundado por Ana Rita Gomes, com foco em projetos residenciais e reabilitação. Acredita que cada casa deve refletir a identidade e as memórias de quem a habita, unindo funcionalidade, conforto e estética num processo de acompanhamento próximo e humano. Quer remodelar ou construir? Entre em contacto.